Bicentenário Marista
Era 2 de janeiro de 1817. Marcelino Champagnat entrava nesta casa com dois jovens. Seu sonho era que eles, e no futuro muitos mais, levassem o Evangelho às crianças e aos jovens mais necessitados. Esta é a data que consideramos a da fundação do Instituto Marista.
No próximo dia 2 de janeiro de 2017 se completarão dois séculos desse acontecimento. Será um momento maravilhoso para recordar, com o coração agradecido, todo o bem que o Espírito Santo realizou na Igreja e no mundo através do Instituto Marista. Ao longo desses 200 anos, muitas gerações de crianças e jovens foram beneficiadas pela educação marista nos cinco continentes.
Carta do Superior Geral - Ir. Emili Turú

Ano Montagne
Estamos em Les Palais, a uns 6 ou 7 quilômetros de La Valla. Por esse mesmo lugar, talvez em um dia chuvoso e com neblina como esse, o Pe. Champagnat passou para atender o jovem moribundo da família Montagne. Esse encontro com o jovem Montagne foi um acontecimento que marcou profundamente a vida do Pe. Champagnat e certamente fez nascer o Instituto Marista.
No dia 28 de outubro de 2014, aniversário do encontro do Pe. Champagnat com o jovem Montagne, daremos início ao ano MONTAGNE. Coincidirá com a celebração do ano da vida consagrada em toda a Igreja. Esse primeiro ícone nos acompanhará até julho de 2015. Será uma recordação da importância e da urgência de nossa missão, tão atual hoje como nos tempos do Pe. Champagnat.
Inspirados por nosso Fundador, que se dirigiu de La Valla até esse lugar caminhando durante várias horas, também nós nos sentimos chamados a caminhar em direção aos jovens Montagne de hoje, ali onde se encontram. Em nossos ouvidos ressoa o insistente apelo do Papa Francisco para deixar a própria comodidade e atrever-se a chegar a todas as periferias que necessitam da luz do Evangelho.
Em sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (49) ele nos diz: Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos. Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida. Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar: «Dai-lhes vós mesmos de comer» (Mc 6, 37).
O que ardia no coração de Champagnat no caminho de volta a La Valla depois de ter encontrado o jovem Montagne? O que vibrava em seu interior e o levou a fundar o Instituto poucos meses
depois? Perguntemo-nos: Não seria o mesmo caminho que agora estamos chamados a refazer, deixando-nos interpelar profundamente pela situação dos jovens Montagne de hoje?
Ano Fourvière
No dia 23 de julho de 1816, dia seguinte ao da ordenação, um grupo de jovens sacerdotes, cheios de sonho, dirigiram-se ao Santuário de Fourvière, em Lyon. Aos pés de Nossa Senhora, na pequena capela que se vê ao fundo, fazem sua promessa de fundar a Sociedade de Maria. Em 2016 celebraremos os 200 anos dessa promessa. Por isso, o período de julho de 2015 a julho 2016 será presidido pelo ícone de Fourvière.
Desde o início, os primeiros maristas imaginaram a Sociedade de Maria como uma grande árvore com diferentes ramos: religiosos sacerdotes, religiosos irmãos, religiosas e leigos. O projeto não obteve o reconhecimento eclesial naquela época. Talvez a conjuntura histórica não fosse adequada. Atualmente, as circunstâncias são bem diferentes. Reconhecemos com gratidão que o Espírito Santo fez florescer entre nós a vocação laical marista. Milhares de leigas e leigos de todo o mundo sentem-se chamados a viver o Evangelho do jeito de Maria conforme a tradição do Pe. Champagnat e dos primeiros irmãos.
As origens da Sociedade de Maria nos recordam que religiosos e leigos estamos integrados para a missão e chamados a oferecer o rosto mariano da Igreja com nossa maneira especial de ser e de construir Igreja. Nosso último Capítulo geral nos convidou a uma nova relação entre irmãos e leigos para servir melhor a apaixonante missão que a Igreja nos confia. O mesmo Capítulo dizia: Contemplamos nosso futuro marista como uma comunhão de pessoas no carisma de Champagnat. Abertos à criatividade do Espírito Santo que nos pode levar, quem sabe, por caminhos inesperados.
Ano La Valla
A casa de La Valla será o ícone que orientará nosso terceiro ano, de agosto de 2016 a agosto de 2017. A celebração central, como é fácil imaginar, será em torno ao dia 2 de janeiro, quando comemoraremos 200 anos de nossa fundação. Esta casa, recém renovada, consta de três andares. Cada um deles carrega um simbolismo que podemos associar aos três anos de preparação ao bicentenário.
Encontramo-nos no andar superior. Vem-nos à memória a comunidade apostólica reunida também no andar superior no dia de Pentecostes. Trata-se, de fato, do espaço da missão: Ide e fazei discípulos por todo o mundo… Um lugar amplo, luminoso, aberto ao mundo. Recorda-nos o ano Montagne e a chamada para nos dirigir às fronteiras e às margens.
No andar térreo encontra-se a famosa mesa de nossas origens, que representa o símbolo da fraternidade. Em torno dessa mesa sentaram-se o Pe. Champagnat e os primeiros irmãos. Hoje essa mesa se vê enriquecida com a presença não apenas de irmãos, mas também de leigas e leigos maristas chamados a construir uma Igreja de rosto mariano. É o ícone do segundo ano, o ano Fourvière: associados para a missão marista.
O terceiro ano, que será o da preparação imediata ao XXII Capítulo geral, vai se concentrar mais nesta parte da casa que, até bem pouco tempo atrás, permaneceu oculta aos visitantes. É um pequeno espaço no subsolo, descendo as escadas. Simboliza aquele nosso espaço interior habitado pelo Mistério. É o espaço da interioridade, da dimensão mística de nossas vidas.
Sabemos que o compromisso com o crescimento espiritual era algo fundamental para o Pe. Champagnat: seu profundo espírito de fé o fazia viver na presença de Deus com toda a naturalidade, seja nos bosques de L’Hermitage ou nas ruidosas ruas de Paris. Viver como ele implica cultivar o silêncio, dar tempo suficiente à oração pessoal e comunitária, colocar-se na escuta da Palavra do Senhor, como Maria da Anunciação. Como ela, que guardava e meditava todas as coisas em seu coração, dispomo-nos a ser contemplativos na ação.
Em primeiro lugar, o ano Montagne. Somos convidados a ser Jesus para os Montagne de hoje, a acompanhá-los com ternura e delicadeza em seu caminho. Em segundo lugar, o ano Fourvière. Associados para a missão. Isto é, associados em torno da figura de Jesus. De um lado, sem olhar para trás, nem sendo tampouco aqueles que se separam de Jesus e vão por sua conta. E em terceiro lugar, a sugestão do ano La Valla. Esse convite para cultivar a dimensão mística de nossas vidas: o encontro com Jesus, pão da vida, para que também nós possamos contagiar a vida em plenitude ao nosso redor.
Esperamos que todos, cada um assumindo sua responsabilidade, ajudemos a aurora a nascer, a aurora de um Instituto marista renovado. Só o compromisso de todos tornará possível um novo começo. E podemos contar sempre com a ajuda, a ternura e o cuidado de Maria, nossa Boa Mãe. Que Ela seja nossa inspiração e nossa bênção.[/dt_banner]